CISMA
As auras sopram de leve
Entre as árvores do monte,
O firmamento se curva
Sobre as fimbrias do horizonte.
O rio estende seus mantos
Encrespado pela aragem,
Sobre as rendas verdejantes
Da relva que cresce à margem.
A estrela trêmula e pálida
Infiltra um tímido olhar
Na transparência infinita
D’um esplêndido luar.
E a lua – a virgem celeste
Dos amores ideais -,
Se embala nas filigranas
D’uma rede de cristais.
A natureza palpita
Estremecendo d’amor
Aos afagos luminosos
Dos risos do Criador
O barco singra a corrente
Do rio temido e azul,
Impelido pelos sopros
Dos ventos que vem do sul.
Da amurada do navio
Que corta rápido as águas,
O poeta exala um canto,
Impregnado de mágoas.
É que os encantos infindos
Que esvoaçam na amplidão
Só não podem achar eco
No seu triste coração.
É que a harmonia sublime
Que povoa a imensidade
Vem reabrir no seu peito
A cicatriz da saudade!
Xilderico de Faria