segunda-feira, 31 de julho de 2017



POESIA - Lycurgo de Paiva


A bordo do Vapor Tamandaré
(Recitada por Lycurgo ao Corpo de Guarnição e Voluntários do Piauhy)

Bravos soldados – avante!
Filhos do norte – coragem!
D’aqui bem longe, distante,
Lá nos insulta um selvagem
Agora mesmo arrogante,
Talvez de novo nos fira;
 Quem nos dirá, neste instante,
 Qu’outras cabeças não tire?

Ide; correi pressurosos,
Ide ajustar nossas contas;
Ardendo em raiva, - fogosos,
Vingar a mãe das afrontas,
Ide, valentes, - briosos,
Vossos irmãos já lá estão,
Ferros nas mãos, luminosos.
Façam tremer o vilão!

Em Payssandu já s’ostenta
N’alta muralha – o pendão:
Montevidéu – opulenta
Curvou-se humilde à nação:
Resta-nos inda a cruenta,
 Essa fatal  - Paraguay!
Quem, onde o vil se sustenta
Vingar afrontas – não vai?

Neste festim sanguinário
Ide também ser convivas!
Quem não será solidário
Em circunstâncias tão vivas?
Quando à nação do fadário
O negro manto se a’antolha,
Quando no sul um corsário
Em nosso sangue se molha?

Ide vingar a donzela
Q’o manto o vil profanou;
Morta depois – tão singela!
Sem ver o céu que sonhou!;
A flor do vale tão bela,
Q'o monstro a seiva bebeu,
Clama por vós numa estrela,
Q’ lá no céu se perdeu.

O pai a mãe que a pranteiam,
A triste irmã, q’inda chora,
Loucos de dor devaneiam,
Clamam por Deus nesta hora;
Ardendo em fogo alardeiam
Em ais pungentes – vingança!...
No céu q’as nuvens branqueiam
Fitam olhar d’esperança!

Nossos avós - diz a história
Foram tímidos, valentes!
Em honra a essa memória,
Mostrai valor, combatentes!
No campo lá da vitória
Quando o clarim der – avança!...
Não fique um só – vão na glória
Ver, quanto aqui não a’alcança.

Ide cumprir um dever
O mais sagrado na terra:
A pátria – a mãe defender
Ide, valentes na guerra!
Por ela é bom combater.
Em frio chão resvalar;
De luta, enfim, quem morrer
Irá na glória acordar!

E, no correr da batalha,
Ao rijo troar do canhão,
A vossos pés sem mortalha,
Caiu gemendo o vilão;
E como a fera atassalha
A presa, em ódio a bramir,
Assim, de rojo, - o canalha.
Ouça o canhão retinir.

Quando da Pátria, em defesa,
Na luta morre seu guerreiro,
É como estrela que acesa
Revela o céu brasileiro!...
Deste país na grandeza,
No santo livro da  história,
Será sagrado à braveza,
Um brado – de alta vitória?!

Morte, morte ao vilão!
Brado o Piauí nesse instante,
E o echo pela amplidão
Vá-se escoar – retumbante-;
E do ardor – n’altivez-
Lá onde o monstro se perde
Triunfa mais uma vez –
Nosso pendão – auriverde-!






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